A ansiedade é um dos males da nossa sociedade atual, como tal, é importante entender que ela se manifesta de diferentes formas.
É de extrema importância refletir sobre a ansiedade que gira em torno do vazio. Um tipo de ansiedade que tem relação com as redes sociais e a rapidez com que temos acesso, atualmente, a todo o tipo de informação.
Com a múltipla interação, a proliferação das redes sociais, ou até com a partilha de uma selfie, que nos permite estar sempre online, é importante não esquecer que podemos ficar off de nós próprios, se, de quando em vez, não cultivarmos a solidão, a reflexão e o pensamento crítico, para não nos desligarmos de nós próprios e do que é essencial na vida.
Não estamos acostumados a lidar com o silencio, com a pausa. A nossa espera, atualmente, gira em torno do telemóvel. As salas de espera, não precisam de televisão nem de revistas, mas sim da senha do wi-fi para que todos estejam entretidos com os seus telemóveis.
Acontece que, nesta ânsia de nunca estar parado, sentimo-nos incomodados, culpados, e por vezes, surgem sintomas físicos como falta de ar, taquicardia, frio na barriga, simplesmente pelo fato de não estarmos ocupados. Todo o silêncio é ocupado por um vídeo, um podcast, apesar de por vezes o vazio se instalar, e da sensação de “este fim de semana não tenho compromissos”, que gera solidão.
A solidão é um conceito que está associado, ao abandono, à doença, a idosos entregues a si próprios, e por isso, a sentimentos de medo, de impotência, de angústia. No entanto, na nossa vida tão agitada, tão em contacto, tão disponível e à disposição, deveria estar reservado e garantido um espaço para a experiência da solidão, para aquele morar comigo mesmo, do qual só pode florescer e fluir uma relação intensa com a própria interioridade. O sentir-me, o regresso a e sobre mim próprio, a capacidade de distinguir entre ídolo e verdade, entre projeção e realidade, de coisas que podem durar um dia, e que valem e/ou empenham uma vida inteira.
Desta forma, a solidão é preciosa, é o tempo em que podemos colocar corajosamente a nós próprios as interrogações; Quem está a viver esta vida? O que me caracteriza de modo essencial e de modo marginal? A que sonhos e ilusões me entreguei a minha vida? O que é que é verdadeiramente importante neste meu esforço contínuo e na minha existência? O que posso dispensar no meu dia a dia? O que há de superficial na minha forma de viver?; e um sem número de questões que podemos colocar quando existe o “silêncio” de mim para mim, cuja resposta nem sempre é fácil, mas é quando verdadeiramente aprendemos a conhecer-nos.
A solidão é, assim, o tempo de cuidarmos de nós próprios, aquele espaço de ressonância, entre nós e o mundo, que cria distância, separação, vazio, mas que habitando-o, podemos regressar em seguida à nossa existência de modo distinto, solto e soberano. Sendo que, desta forma, evitamos que a nossa vida e o nosso “eu” tomem direções distintas e paralelas, evitamos a perda daquele espaço interior que nos permite viver uma história, a nossa história, e não simplesmente fragmentos ou estilhaços da mesma.
É muito importante parar para ouvir esses pensamentos que aparecem quando o vazio se instala, por mais que tragam sensações menos boas, ouça! Ao dar-lhes atenção é possível entendê-los, interpretá-los e questioná-los. O que realmente, e na maioria das vezes, acontece é a fuga desses pensamentos e ao invés de um merecido descanso, ocupamo-nos cada vez mais para não ter de lidar com este vazio, que na maior parte das vezes surge sob a forma de armadilha.
Paula César
Psicóloga Clínica e da Saúde