Amiga de alguns, inimiga de muitos, a solidão é um tema recorrente e cada vez mais presente nas nossas vidas. Mas afinal, o que é solidão?
Como definição no dicionário temos a Solidão como um estado de quem está só, retirado do mundo; Isolamento moral, interiorização.
De uma forma mais especifica, podemos dizer que a solidão é um sentimento no qual uma pessoa sente uma profunda sensação de vazio e isolamento. A solidão, pode estar associada à separação e pode-se manifestar em sentimentos de abandono, rejeição, depressão, insegurança, ansiedade, falta de esperança, inutilidade, insignificância e ressentimento. Se estes sentimentos forem prolongados no tempo, podem tornar-se debilitantes e bloquear a capacidade da pessoa de ter um estilo de vida e relacionamentos saudáveis. Na maioria das vezes o aumento da experiência de sofrimento e o consequente distanciamento social resultam da ideia de que a pessoa não é suficientemente capaz, ou da sensação de não ser amado. Neste sentido, a baixa autoestima pode dar início ao afastamento social que por sua vez, pode levar à solidão.
O maleficio que a solidão pode provocar, não advém de si mesma, do simples fato de estarmos sós, mas de um sentimento geral de infelicidade e dor, motivado pela ausência dos outros ou, de uma relação, profunda e consoladora, que traga uma certeza interior de acolhimento.
Só quem sente ou sentiu solidão, pode avaliar quão dolorosa pode ser, notando os sentimentos de tristeza, abandono e depressão, e também suas temíveis consequências.
A solidão é considerada como algo que provoca dor e perda, qualificada na maioria das vezes como um sentimento negativo, ao qual, disfarçadamente ou não, subsiste uma certa aversão.
Tendencialmente objetiva-se fazer o possível para não sentir o vazio, através de um processo educativo, que tem por base uma “solidão atarefada”, ou até mesmo através da ocupação com os próprios conteúdos mentais, tornando-se mais difícil que resolva o problema, pois geralmente esse é o problema.
É intuitivo que, em cada pessoa há um espaço interior onde a emoção e o pensamento se manifestam incessantemente. Se observarmos com bastante atenção, veremos que o sentir e o pensar, às vezes concordes e tantas vezes adversários entre si, realimentam-se mutuamente e perpetuam-se neste espaço.
Quando o lado emocional está envolvido, o sentir e pensar são espontâneos, contraditórios, repetitivos e caóticos, escravizando a nossa atenção e desgastando a nossa energia psíquica. O que nos ajuda a compreender a razão pela qual a solidão é tão exasperante, uma vez que nela imersos, escutamos incessante e compulsivamente vozes de perda, autopiedade, tristeza, impotência, desânimo e revolta. São estas vozes que nos atormentam, sobretudo porque não temos o poder de as silenciar.
Assim, o problema não é a solidão em si mesma, mas as ansiedades, frustrações e dores que transportamos, e que em alguns momentos, face às vicissitudes da vida, se tornam muito mais agudas, trazendo-nos perturbação e podendo levar a sérios problemas de saúde. Nestes momentos, torna-se mais temível o estar só, o que de certo modo é inevitável, pois embora haja inúmeros conteúdos psicológicos a manifestarem-se descontroladamente, estamos sós no nosso mundo emocional, e a razão ou raciocínio falham na enorme tarefa de colocar ordem na “casa”.
A principal causa do medo da solidão, resulta do fato de que não nos conhecermos verdadeiramente a nós mesmos e não experienciamos e disfrutamos do sentimento de estar só, quando o fazemos voluntariamente, em estados de reflexão, meditação, contemplação, em que a nossa própria companhia não é motivo de dor, e em que o estar só não é necessariamente, um peso.
Quando nos começamos a interessar por aquilo que está na base das nossas manifestações mentais, começamos a intuir uma presença em nós, e ela é doce, benéfica, amorosa e companheira, que nos acolhe e não nos condena. A prática constante do autoconhecimento é um trabalho árduo, que exige grande dedicação e persistência.
Neste sentido uma vida psicologicamente saudável pressupõe um funcionamento harmonioso e equilibrado do autoconhecimento e assim, passamos a dar importância ao sossego, ao não verbal, ao silêncio das árvores, ao canto dos pássaros, à beleza das flores e queremos ter mais tempo a sós, connosco… e a solidão transforma-se em solitude.
Paula César
Psicóloga Clínica e da Saúde