Codependência, a quanto obrigas!!

A codependência é uma condição comportamental numa relação, em que uma pessoa por ser cuidadora, altamente funcional e útil, apoia, perpetua ou “habilita” um comportamento irresponsável ou destrutivo de alguém que lhe é significativo.

Esse conceito controverso surgiu na década de 80 na comunidade de abuso de substâncias e foi originalmente aplicado aos padrões de cuidado observados entre parceiros de alcoólicos. Desde então, tem sido aplicado não só às dependências em geral, como a outros tipos de problemas de saúde mental e problemas comportamentais, incluindo violência doméstica e abuso emocional.

O codependente assume um papel arquetípico messiânico que invade todas as áreas da sua vida e na maior parte das vezes, gradualmente esquece-se de si mesmo e das suas necessidades para se concentrar nos problemas do outro (o parceiro, um familiar, um amigo, uma causa social, etc.). É muito comum que se relacione com pessoas “problemáticas”, no sentido de ser capaz de resgatá-los e criar desta forma um vínculo que os una.

Com a sua disponibilidade constante, disfarçada de falso altruísmo, o codependente procura gerar, no outro, a necessidade da sua presença e, ao implicar-se na vida do outro, esquece as suas próprias necessidades, sendo frequente que, quando a outra pessoa não responda como espera, fique frustrado e deprimido. Estamos perante uma condição grave, pois não sentir reciprocidade numa relação pode ser prejudicial para ambos, do ponto de vista emocional e psicológico.

Perante a existência de uma forte ligação emocional, a codependência afeta as duas pessoas da relação, uma vez que não ajuda o dependente a melhorar, mas a permanecer na situação que o codependente sustenta. Acredita que a sua felicidade depende da pessoa que quer ajudar, o que o torna emocionalmente dependente do outro, tornando-se, na maioria das vezes, uma pessoa permissiva, tolerante e compreensiva diante de abusos, ou seja, as necessidades do outro estão sempre em primeiro lugar. Não age por decisão própria, perde a liberdade de expressão e de escolha, e fica agarrado a uma “teia” na dependência, em que, o seu estado de humor depende, em muito, do comportamento e das atitudes do dependente.

A codependência afeta a pessoa na vertente da baixa autoestima, em estabelecer limites saudáveis nos relacionamento de intimidade, reconhecer e assumir a sua realidade disfuncional (negação e ilusão) e uma necessidade excessiva de agradar os outros, assumir a responsabilidade em gerir as suas necessidades adultas (atitudes, emoções e comportamentos), identificar e expressar as suas emoções de forma moderada (raiva, ressentimento, medo, culpa e vergonha), levando a limites interpessoais pobres que o fazem se sentir responsável pelos problemas do outro.

Os sintomas da codependência abrangem na sua maioria, o controle do comportamento, a desconfiança, o perfeccionismo, o evitar falar sobre sentimentos, problemas de intimidade, comportamento protetor, hipervigilância ou desconforto físico devido ao stress. É, também, frequentemente acompanhada de depressão, uma vez que, o codependente sucumbe a sentimentos de frustração ou tristeza extrema perante a sua incapacidade de produzir as mudanças, expectáveis por si, na vida da outra pessoa.

Importante também de referir que este termo, pode ser muitas vezes confundido, sendo também frequente patologizar e estigmatizar o comportamento humano saudável afetivo. Ou seja, é natural para o ser humano formar laços emocionais duradouros, sendo que, no caso de ser iniciado um comportamento problemático, estes laços não se quebram automaticamente. Isto porque a interação relacional e o desejo de mantê-la funciona como uma necessidade básica, profundamente enraizada, sendo que o isolamento tem sido apontado repetidamente como altamente destrutivo para a saúde, tanto mental quanto física. Agregada a isto, surge outra questão fundamental, a de que é perfeitamente natural que comportamentos erróneos e o sofrimento de quem nos é significativo provocam empatia, compaixão e enaltecem em nós o desejo de ajudar, facilitando por vezes a colocação da necessidade do outro à frente das nossas.

Posto isto, é necessária atenção redobrada, já que a codependência não reconhece, por si só, a responsabilidade que o próprio tem sobre o seu comportamento, ou pela necessidade de mudança.

Por ser mal diagnosticada, existe uma tendência para procurar programas de autoajuda, normalmente longos, quando poderiam ser substituídos por terapias breves e com resultados a curto prazo, por forma a existir mudança efetiva de comportamento, desmascarando este “falso altruísmo”.

 

Se pensa estar numa relação codependente, ou se identifica estes comportamentos perto de si, não hesite em procurar ajuda junto de profissionais habilitados.

 

“Não é a mudança que é difícil, mas a nossa resistência à mesma”

Paula César
Psicóloga Clínica e da Saúde

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