Cuidar de nós… O que é o autocuidado?

São ações do nosso dia a dia que podemos adotar para melhorar a nossa saúde física, emocional e psicológica.

Quando cuidamos de nós estamos a investir não só em nós mesmos, mas também naqueles que nos são próximos. Uma pessoa que cuida de si tem mais disponibilidade emocional para o outro e consegue estar em relação com maior qualidade. Vale para relações com filhos, companheiro, família e amigos!

Vamos abordar algumas práticas de autocuidado, deixando algumas sugestões, que poderá adaptar à sua vida, tendo em conta a pessoa que é e o seu quotidiano.

Certamente a maioria de nós já ouviu falar da prática de Mindfulness, que se traduz por atenção plena, concentração no momento presente.  A maioria dos nossos pensamentos oscilam entre aquilo que temos de fazer e aquilo que já fizemos. Estes pensamentos, na maioria das vezes, não nos impedem de continuarmos a executar tarefas do nosso quotidiano, fazemo-las é em “piloto automático”. Este mecanismo do pensamento está enraizado na maioria de nós.

Se nos faz sentido introduzir a prática de atenção plena no nosso dia a dia como uma ação de autocuidado, talvez seja melhor começar com pequenos exercícios a que nos podemos propor ao longo do dia para treinarmos esta capacidade.

Os exercícios de respiração são uma excelente forma de começar. Para estes exercícios temos de nos sentar ou deitar num local tranquilo e a proposta é treinar a nossa atenção no ar que entra e que sai do no nosso corpo, aplicando o princípio de atenção plena. Quando inicia esta prática, saiba que os pensamentos vão aparecer, devemos observá-los, tomar consciência deles e deixá-los ir, como se fossem nuvens ou carros que passam na estrada, não os vamos seguir, vamos observar apenas a sua passagem e voltar a concentrar-nos nas sensações físicas da respiração.

Outro exercício que trabalha a nossa atenção plena e que podemos introduzir no nosso dia a dia é colocar a atenção em alguma atividade diária, por exemplo, quando estamos a  tomar banho, concentrar-nos na água que cai pelo nosso corpo, perceber a sua temperatura, sentir o cheiro do gel de banho, observar o nosso corpo e a sensação de passar a esponja em cada parte do corpo, prestar atenção ao barulho que a água faz ao cair. Nesta prática, os pensamentos também podem surgir, e uma vez mais reconhecemo-los e voltamos novamente a nossa atenção para o momento presente, colocando em primeiro plano os nossos sentidos; olfato, tato, audição e visão.

Outra ação que podemos reforçar no nosso quotidiano e que se assume como um autocuidado é investir nos nossos relacionamentos pessoais; dedicar tempo e estar com quem gostamos e nos faz bem é uma ação que apesar de parecer simples, para a levarmos a cabo deparamo-nos com algumas dificuldades de disponibilidade. Com a correria do dia a dia esta atividade acaba por ser mais uma exceção do que uma regra. Lembre-se, o autocuidado não surge do nada, pelo contrário exige alguma disciplina da nossa parte e neste caso algum planeamento.

Relaxar e ter tempo de qualidade connosco mesmos. Uma vez mais, as rotinas diárias podem surgir como um obstáculo, mas podemos começar com pequenas mudanças, fazendo algumas atividades que nos dão prazer por curtos períodos de tempo e, com o tempo podemos descobrir que esse tempo pode crescer! Se gosta de ler, pode desafiar-se a levantar um pouco mais cedo e ler durante 10 minutos, escolher um dia da semana e tomar um banho mais prolongado; se gosta de pintar ou desenhar ou ouvir musica pode “roubar” um pouco de tempo que dedica às redes sociais e desfrutar da sua companhia fazendo algo que promova o seu bem-estar.

Reconhecer os nossos limites, no trabalho, em casa, em todas as dimensões da nossa vida é um comportamento que por norma temos dificuldade em adotar. Na verdade, a maioria de nós já experimentou esta limitação seja numa fase ou determinada esfera da sua vida. Habitualmente, é no trabalho que esta dificuldade surge com maior frequência.

Saber dizer “Não“, reconhecer que não conseguimos e não podemos chegar a todo lado, é cuidar de nós! Não sendo em alguns contextos um comportamento fácil de assumir, a verdade é que se nos desafiarmos a começar com pequenos passos, poderemos observar que este comportamento se pode generalizar aos diferentes papéis que temos.

Outro comportamento que pode assumir-se como um autocuidado é planificar/organizar o nosso tempo. Somos desafiados a responder a múltiplos desafios na nossa vida familiar, profissional/formativa e social. Muitas vezes desistimos de planificar porque já o fizemos e não resultou. Mas podemos aprender a planear melhor. Acrescentar a esta equação a ideia de que às vezes os nossos planos não vão acontecer como planemos é também um fator importante para não aumentar a nossa frustração. O desafio é priorizar atividades, perguntar a nós mesmos: “Isto é mesmo fundamental?”; “Para quem é necessário?”; “É prioritário nas minhas atividades?”; “Quando é que o posso fazer?” ou “É imperativo fazê-lo esta semana?”.

Cuidar de nós também passa pela não com comparação com os outros. “Cada um caminha com os sapatos que tem”. Por sapatos entendemos a nossa história de vida, as nossas circunstâncias, os nossos valores, as nossas conquistas e derrotas… Por isso compare-se consigo mesmo identificando o que já conquistou ao longo do seu caminho, o que já superou. Elogiar-se a si próprio, olhar para as suas forças, para as suas qualidades certamente será mais útil e vantajoso que comparar-se com os outros.

A auto-observação dos pensamentos assume-se como um comportamento protetor. Esteja atento aos seus diálogos internos. O que diz a si mesma/o? É animador ou pelo contrário é culpabilizador? Diria isso a um amigo? Observe os seus pensamentos… São mais positivos ou negativos? Que emoções desencadeiam os seus pensamentos? Os pensamentos não definem quem é, não são verdades absolutas, inclusive podem mesmo não corresponder à realidade, podem apresentar uma distorção. A auto-observação pode ser um exercício interessante para colocar o pensamento fora de si, dando um espaço que permitirá que trate os seus pensamentos como aquilo que são: apenas pensamentos e não verdades absolutas.

Identificar as suas conquistas, as batalhas vencidas, todas as coisas que tem que o fazem sorrir, vibrar que dão sentido à sua vida…praticar a gratidão é também auto cuidar-se. Esta prática incentiva a que se centre no que tem valor, no que é bom e isso gera bem-estar psicológico.

Temos de ter em conta que cada um teve pontos de partida diferentes, cada um fez o seu caminho, e nesse caminho teve os seus obstáculos, as suas oportunidades, a sua rede de suporte ou a ausência da mesma. Cada um fez uma construção com aquilo que foi encontrando e com os recursos que tinha em determinado momento.

Iniciar um processo psicoterapêutico é também um autocuidado que pode fazer sentido em determinado momento da sua vida. A psicoterapia não tem que ocorrer apenas em situações de crise ou doença mental. Pode acontecer como um investimento no seu desenvolvimento pessoal, no seu autoconhecimento, por forma a aprender a conhecer melhor os seus recursos internos, as suas emoções, as suas vulnerabilidades, as suas forças. Neste espaço conseguirá ferramentas que o ajudarão a lidar melhor com os seus desafios diários, a sentir-se mais conectado consigo mesmo. Quando iniciamos um processo psicoterapêutico estamos a fazer um investimento na nossa saúde. E não devemos apenas pensar em saúde quando há doenças. A saúde mental começa com a prevenção.

Aposte em si mesmo, em cuidar-se, em olhar-se, em mimar-se.

O autocuidado é saúde!

Carolina Guedes

Psicóloga Clínica

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