Depressão… ou nem tanto

Falar de depressão significa falar de corpo, de mente e de espírito. Neste sentido, devemos dirigir-nos à pessoa na sua globalidade: ao corpo que sofre, à mente confusa e ao espírito cansado. O sistema nervoso e o sistema psíquico não são entidades desligadas do corpo, mas partes integrantes do mesmo. Se o nosso corpo tiver de enfrentar um stress superior às nossas forças, todo o sistema psíquico e nervoso sofrerá consequências.

A verdadeira saúde mental não consiste apenas na ausência de sintomas, mas caracteriza-se também por um sentido de bem-estar, de harmonia e paz interior, e por uma capacidade de se adaptar às mudanças e de responsabilizar-se por si próprio. Daí, surge a necessidade da pessoa conhecer-se profundamente, para poder dar um significado e um sentido elevado a si próprio, ao seu existir, onde a depressão, a ansiedade e outros problemas do sentir assumem uma adequada colocação.

A ansiedade significa, em latim “medo do desconhecido”. Sentimo-nos sufocar pela ansiedade? Claro que sim, faz parte da vida, ela existe porque existem seres humanos. O problema não é combatê-la, mas conhecê-la e saber interpretá-la para que possa ser-nos útil. Ter medo é natural, no nosso cérebro acontecem transformações químicas que nos permitem reagir a situações de perigo ou stress (ataque ou fuga), daqui advém a utilidade da ansiedade, que serve como defesa. O problema surge quando nos mantemos ansiosos, mesmo quando já não é necessário e passou o perigo.

Pelo contrário, a depressão é uma doença dos sentimentos, que vai de uma reação excessiva a eventos negativos, a um estado de abulia em que nos deixamos viver, até ao desespero total.

Na ansiedade, as funções do corpo e da mente aceleram-se, na depressão tornam-se lentos. A passagem de uma situação (ansiedade) a outra (depressão) é ténue, e o próprio não a reconhece. De um estado de agitação permanente passa ao entorpecimento das emoções, para um desacreditar em si próprio, em que lentamente vai perdendo, por vezes, o sentido da vida.

A depressão é uma resposta ao sofrimento, à dor, e não pode, nem deve ser usada como insulto ou uma forma de humilhação ou de escárnio. Por vezes existe a tentação de utilizar os psicofármacos com o objetivo de fugir ao sofrimento e como forma de alienação, recriando um estado psíquico diferente do normal. Na tentativa de fugir ao sofrimento e na procura obsessiva do bem-estar.

Estar deprimido é muito diferente de estar infeliz. Na depressão o doente não consegue aceitar os seus sentimentos tristes, logo, apaga-os e já não sente nenhuma emoção, da mesma forma que, apaga também os sentimentos positivos com os quais poderia equilibrar o seu estado de alma, sendo impossível confortá-lo.

A depressão é muito enganadora! Pouco a pouco, vai-nos assaltando, anestesiando progressivamente os nossos sentimentos, acabando por aceitar como normal uma vida cinzenta.

A experiência de vida ensina-nos que quanto mais nos enredarmos, mais sofremos, e que, quanto mais resistirmos a alguma coisa mais a fortalecemos. É necessário aprender a atravessar as situações, a caminhar em frente e a não permanecer dentro de nós próprios.

É necessária ajuda para caminhar? Claro que sim, na vida é difícil caminhar sozinho! É necessário aceitar as nossas limitações, sejamos compreensivos e pacientes connosco próprios, e podemos sempre abrandar o nosso passo, desde que saibamos pedir ajuda especializada, e sobretudo, não paremos na caminhada da vida.

Paula César
Psicóloga Clínica e da Saúde

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