Bem-estar. Bem-estar geral. Bem-estar psicológico. Quem somos nós se não estivermos bem? Quem são os outros se não contribuem para o nosso bem-estar? E se, mesmo que tudo à nossa volta indique de devemos estar bem, não sentirmos bem-estar e, consequentemente, não estivermos bem?
É preciso desmistificar a doença mental. É preciso que se saiba que, ao falar de saúde mental, não estamos a falar de um equilíbrio perfeito das forças, construtos e processos, e funções mentais. Até porque o perfeito não existe. E, se existisse, não seria nunca essa a meta a alcançar. Porque todos somos diferentes e, por consequência, o equilíbrio mental que funciona para nós, não será exatamente o mesmo que para outras pessoas.
Assim, e porque é e continua a ser fundamental falar em saúde mental, é necessário que se explique que, ao considerar “saúde mental” temos obrigatoriamente que referir a saúde em si. Porque não existe saúde, sem saúde mental. A saúde mental engloba entre outras, a capacidade de adaptação a novas circunstâncias de vida, a capacidade de reconhecer os limites do mal-estar, a superação de crises emocionais e conflitos internos, o estabelecimento de relações satisfatórias com o próprio e com os pares e, sobretudo, ter a capacidade de alimentar a criatividade e o humor, na descoberta de um sentido para a vida.
Segundo a Direção Geral de Saùde (DGS), “(…) quando existe sofrimento emocional e a relação com familiares e amigos não for suficiente para os resolver, importa pedir ajuda a profissionais do sector”. Isto porque todos estamos vulneráveis ao aparecimento de motivos pessoais e circunstanciais que possam comprometer a qualidade da nossa saúde mental, no sentido em que estamos constantemente expostos a acontecimentos adversos, precipitantes de doença mental.
Neste sentido, importa estar atento. Constantemente atento ao surgimento de sintomas, nomeadamente no que diz respeito a vulnerabilidade emocional, relacionada com perturbações da ansiedade ou do humor (como é exemplo a Depressão). E porque estas surgem, muitas vezes, sem aviso prévio, ou pelo menos que nos apercebamos dele, não podemos facilitar a sua chegada, desreponsabilizando-nos e deixando-nos acomodar, já que, Portugal é dos maiores consumidores de benzodiazepinas (ansiolíticos) e antidepressivos, a nível europeu. É importante não esperar que seja feito o estrago para, de seguida, remendar. Porquê? Porque estes compostos induzem elevada dependência e tolerância, tendo um efeito meramente somático. Isto é, interferem na expressão dos sintomas e do sofrimento psicológico, mas não na sua origem.
Desta forma, é de elevada importância e, diria até alguma urgência, que as pessoas comecem a conceber a ideia de promoção da saúde mental, tendo-a como foco e reconhecendo que este é o caminho para um equilíbrio psicológico facilitador do bem-esta geral. Ora se a saúde mental está diretamente correlacionada com a adaptação e satisfação, resultando na capacidade de resolver adversidades, a intervenção precoce previne complicações futuras mais graves, facilitando a reeducação e recuperação, principalmente porque esta não é estanque ao longo da vida.
Esteja atento(a) às suas individualidades e singularidades, reconhecendo fragilidades, forças e aquilo que é o seu equilíbrio interno. O diagnóstico em tempo útil pode ser valioso, evitando prescrições médicas e a exacerbação de sintomas que possam resultar em mais sofrimento psicológico e até, em doença mental.
Recorde-se e insista (se necessário) na ideia de que, nós, seres humanos, somos mais do que seres racionais, e que, por isso, as emoções são parte integrante e incontornável da nossa estrutura e vida mental. Assim, o que sentimos não está certo, nem errado, e não deve nunca ser julgado. Pode ser explorado, trabalhado, moldado, mas nunca julgado! É fundamental estarmos em contacto com as nossas emoções, aceitando-as e elaborando-as, delineando estratégias para valorizarmos as nossas capacidades e qualidades, conferindo-lhes a devida importância, sempre que possível ou necessário, junto de profissionais qualificados.
Em conclusão, a nossa base genética não nos define por completo, sendo até menos preponderante que a qualidade afetiva na construção psíquica. Temos que, de uma vez por todas, reconhecer que a doença mental ou os problemas psicológicos NÃO advêm de pessoas fracas e sem vontade de fazer melhor por si ou pelos outros.
Se sente que precisa de ajuda, não hesite. Não se julgue nem se esconda. No fundo, somos todos humanos, e procurar ajuda é isso mesmo… ser humano!
Filipa César
Psicóloga Clínica e da Saúde