Liberdade para crescer e escolher, sem pressa!

A família é o pilar de uma infância feliz. É também a primeira instituição responsável pela socialização da criança, para além de assumir um papel preponderante em todo o processo de crescimento, no qual a criança desenvolve a linguagem, as emoções e a cognição.

Nesse sentido, o ambiente familiar deve ser enriquecedor para proporcionar à criança tomar como referência regras, leis, ritmos suficientemente seguros para ela se organizar psiquicamente porque se identifica com os adultos que respeitam essas normas. Ao mesmo tempo, deve-se valorizar esse ambiente natural para que as crianças desenvolvam atitudes positivas de forma que, no futuro, sejam adultos confiantes, ativos e independentes.

À medida que as crianças vão crescendo, apreendem e exploram o mundo ao redor a partir do seu ponto de vista e, nesta fase principalmente, há vontade de testar limites de diversas formas de ação, em relação ao corpo e ao espaço. Os comportamentos de risco controlado, através do brincar que envolve correr, puxar, mexer, saltar e jogar permitem à criança ganhar maior segurança, mobilidade e autonomia. Neste âmbito, as brincadeiras devem ter em simultâneo, objetivos muito claros e tarefas adequadas à idade da criança, tendo subjacentes algumas componentes-base como a conexão, a exploração e a diversão. Por outro lado, é a plasticidade cerebral que possibilita a formação de novas estruturas organizacionais em resposta às experiências que vai adquirindo, o que contribui para facilitar todo o processo de adaptação a situações adversas.

Porém, há uma grande intromissão dos pais nas brincadeiras na perspetiva de superproteção, que não abona em nada o desenvolvimento da criança. As crianças precisam de se confrontar com desafios para serem capazes de experimentar formas de resolver conflitos. Logo, há que apostar na concretização e não na frustração, e incentivar a curiosidade e a imaginação, de forma preventiva.

A educação pré-escolar reveste-se de primordial importância porque é a primeira etapa da educação que antecede a entrada no 1º ciclo do Ensino Básico, cujo principal objetivo visa preparar a criança e potencializar as suas capacidades cognitivas, emocionais e comportamentais, prevenindo assim o insucesso no ingresso no 1º Ciclo. 

A frequência do jardim de infância para as crianças em idade pré-escolar, dos três aos cinco anos, pode ser uma experiência marcante, visto serem diferentes entre si e terem graus de sensibilidade distintos que, ao entrar num ambiente novo e desconhecido, pode ser fruto de ansiedade, medo, birras, choro à chegada e/ou à saída desse espaço educativo. A criança pode, inclusive, resistir ao contacto dos pais uma vez que, foi difícil suportar a separação, daí ativar mecanismos de defesa. Na relação com o adulto e, particularmente, com o educador de infância ou outros profissionais que cuidarão da criança, a falta de apego também pode acontecer em virtude de ainda não serem figuras de referência para a criança. Tanto uma realidade como a outra são indissociáveis, sendo por isso necessário que os pais conheçam o jardim de infância na presença da criança, para que esta o entenda e aceite como ambiente seguro enquanto estabelece uma relação de apego focada no adulto como facilitador da boa integração.

Neste contexto, é atribuída aos educadores de infância e outros profissionais da área, a responsabilidade de criar um conjunto de experiências, atividades, rotinas e acontecimentos planeados e não planeados que ocorrem num ambiente educativo inclusivo, organizado para promover o bem-estar, o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças facilitando a sua integração plena na sociedade.

No jardim de infância não há metas curriculares, nem a pressão do sucesso escolar. Aprende-se, motiva-se e facilitam-se experiências sendo que, é através da observação direta que se identificam os interesses e se percebe se as crianças se sentem bem e integradas, nomeadamente:

  • Fazer-de-conta, expressar, criar, descobrir, ouvir histórias, abrir e folhear livros e ser a personagem que mais gosta, assistir a um filme de animação, ver uma peça de teatro infantil, ouvir música, cantar, dançar – apelam à criatividade e imaginação da criança;
  • Brincar com objetos, com materiais não estruturados, flexíveis que permitam dar asas à sua imaginação (plasticina, papel, cartolina, madeira, barro) – estimulam o desenvolvimento cognitivo e psicomotor;
  • Pintar, desenhar – facilitam a expressão de sentimentos e emoções;
  • Praticar desportos, saltar à corda e ao elástico – promovem a autonomia e a mobilidade;
  • Conversar, perguntar e esclarecer, usar as novas tecnologias para brincar e aprender, ao explorar conhecimentos no mundo digital – promovem a autoconsciência, a flexibilidade cognitiva e o espírito crítico.

A criança está sempre no centro da sua própria aprendizagem porque tem um papel ativo e é um ser social em constante transformação. Por esse motivo, deve-se respeitar a individualidade da criança para esta ter liberdade de brincar, explorar a natureza, expressar, descobrir, criar e crescer ao seu próprio ritmo, sem pressas, para poder desenvolver-se de forma saudável.

E porque brincar é um fim em si mesmo, é considerada uma das atividades fundamentais porque promove o desenvolvimento afetivo e emocional da criança, estimula a sua imaginação e criatividade, favorece o seu desenvolvimento físico e motor e potencia a sua resiliência e socialização.  

Magda Lopes

Psicóloga Educacional

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