O silêncio das Emoções

As emoções são indispensáveis para a nossa vida diária. São as emoções que nos tornam únicos. São um conjunto de mecanismos presentes após o nosso nascimento, e que sem aprendizagem prévia, solucionam automaticamente os problemas básicos da vida. Manifestam-se através de expressões corporais, desencadeadas por estímulos ou acontecimentos externos, sendo essenciais à nossa sobrevivência. Os sentimentos sucedem as emoções, e são a perceção que temos  de um certo estado do corpo, acompanhado pela interpretação, pela experiência mental e significado que cada individuo lhes atribui perante uma determinada situação.

Vivemos numa sociedade em que a perfeição é a primazia do ser humano. Uma sociedade que está focada numa positividade excessiva que pode, por vezes, ser motivadora, e por outras demasiado tóxica, até mesmo destrutiva. As pessoas estão focadas em fazer, mostrar, pensar positivo, ter de ser melhor que o outro. Valorizamos uma sociedade que não existe espaço para sofrer, apenas para responder de forma emocionalmente positiva a qualquer situação e é assim que vamos eliminando a nossa capacidade de nos ouvir por inteiro, acreditando que esta é a fórmula para sobreviver.

Então, onde encontramos espaço para as emoções menos prazerosas? Sim, porque elas existem, por muito que as tentemos silenciar. A Tristeza, a Raiva, o Medo, ainda que achemos que não, elas são essenciais à nossa vida, à nossa sobrevivência. Ensinam-nos que devemos estar atentos. Como a Alegria, que nos permite perceber o que nos faz sentir bem, a Tristeza permite-nos entender por exemplo, onde não queremos estar. O Medo, se o escutarmos, permite-nos enfrentar ou não determinadas situações, e a Raiva que, em determinadas situações nos permite aliviar a nossa dor, coitada, é constantemente mal interpretada. Curioso, que quanto mais a camuflamos, mais cedo ou mais tarde,  ela vai-se manifestar de uma forma menos saudável dentro de nós.

Esta sociedade que quer viver no perfecionismo, será que não se apercebe que para isso temos de escutar o nosso interior, como um todo? Temos de nos mostrar vulneráveis, deixar as capas cair e estar verdadeiramente abertos à experiência, uma vez que todas são essenciais ao ser humano, e só assim nos podemos organizar e sentir mais saudáveis psicologicamente.

Quando não prestamos atenção ao que estamos a sentir, surgem problemas como a ansiedade, a angústia, que rapidamente podem alcançar extremos, como a ansiedade patológica, os ataques de pânico, a depressão, bem como as doenças psicossomáticas, que são uma manifestação do nosso corpo por não termos acolhido, respeitado e regulado as nossas emoções.

É importante percebermos que não deve existir uma separação entre a forma como nos sentimos, abraçando uma dualidade, um equilíbrio em saber viver com tudo o que sentimos, ou será que só conseguimos sentir raiva sem podermos sentir amor? Creio que não. Defendo que devemos deixar as crenças que a nossa sociedade nos impôs, rotulando as emoções menos prazerosas como negativas e até mesmo por vezes intoleráveis em determinados contextos, onde todos os dias temos de estar presentes, como por exemplo, no nosso emprego, onde o sorriso tem de ser sempre nosso aliado.

Sou por mais sentir, por mais pensar, por mais Ser.

Acolha as suas emoções.

Ria quando tem de rir, chore quando tem de chorar. Não é assim que funciona o nosso planeta? Penso que não existem só dias de Sol.

Sofia Crespo

Psicóloga Clínica e da Saúde

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