O trinómio Desporto, Ética e Felicidade

Não existem dúvidas que a prática desportiva é um veículo fundamental para o desenvolvimento da saúde e bem-estar, tanto a nível físico, como a nível psicológico, constituindo-se uma importante componente na melhoria da qualidade de vida, bem como na promoção da felicidade. Ainda assim, acreditamos que o desporto não pode ser um agente de felicidade sem valores éticos e morais que apoiem a sua prática, para que esta se apresente mais completa e plena de significado, contribuindo assim para o desenvolvimento positivo dos jovens, através do treino de variadas competências pessoais, tais como as competências sociais e emocionais.

Se encontrarmos no desporto um espaço de formação e florescimento por excelência, estamos certos de estar a contribuir para a evolução de jovens mais ativos, saudáveis, motivados, educados e felizes.

Alguns valores como serenidade, generosidade, respeito, solidariedade, amizade, equilíbrio, honestidade, dignidade, entre outros, ensinados durante a formação desportiva, quando alinhados com as competências pessoais e capacidades físicas, vão com certeza ajudar na construção de vidas mais plenas de sentido, que por sua vez, conduzem à excelência dos seres humanos, pois a forma como os jovens lidam com os seus pensamentos, emoções e comportamentos é um fator determinante no sucesso de qualquer atleta.

Através da já vasta bibliografia em psicologia positiva, percebemos que a felicidade é a experiência global do prazer e do significado, o que quer indica que, somos felizes quando conseguimos conciliar ao mesmo tempo o prazer (benefício imediato) com o significado desse mesmo prazer (benefício futuro).

Ao extrapolarmos este principio para a prática desportiva, conseguimos assim juntar a recompensa imediata na satisfação que os jovens atletas retiram dessa mesma prática, quer em treinos, quer em competições, para a sua vontade de transcendência, não apenas física, mas também intelectual, social, moral e espiritual, que deve ser o objetivo máximo de qualquer atleta. Por isso o bem-estar subjetivo vai para além da felicidade, ao procurar a realização do potencial humano, contribuindo para o sentido de uma vida com propósito.

Todavia a aquisição de valores e princípios éticos não se faz nem por  imposição, nem pela simples leitura de documentos. Na realidade é algo que se constrói e, por isso mesmo, envolve aprendizagem, aplicação, modelagem  e, uma presença assídua em todas as dimensões e expressões dessa mesma prática desportiva, que independente do rendimento ou sucesso compõe uma fração do trinómio: Desporto, Ética e Felicidade.  

Apenas a união harmoniosa do desporto com a ética pode resultar no paradigma que gostaríamos de ver em todas as atividades desportivas, tornando-se o desporto por isso mesmo, um agente que contribui para o aumento dos índices de felicidade e bem-estar de todos aqueles que se encontram ligados ao universo desportivo, sejam os praticantes (técnicos ou atletas), as suas famílias que de forma direta ou indiretamente estão envolvidas, adeptos, espetadores, até o cidadão comum.

E que tudo isto não seja uma utopia, porque já em 1896, quando Pierre de Coubertain promoveu os 1ºs Jogos Olímpicos da Era Moderna, os Princípios Fundamentais do Olimpismo refletiam um conjunto de valores, que os atletas aceitavam cumprir sob juramento olímpico, durante a prestação das suas provas. São estes comportamentos de elevação, como a amizade, o são convívio, a interajuda, o respeito mútuo, o saber ganhar e perder, tão importantes, como a importância da competição só por si mesma.

Por fim, é com esperança e otimismo que acreditamos serem a ética e os valores morais fundamentais para o desporto se erguer numa outra dimensão, constituindo-se como um facilitador da felicidade e, um promotor da paz.

“O desporto como um espaço de formação e florescimento contribui para um desenvolvimento positivo.”

Isabel Cabacinho

Psicóloga do Desenvolvimento e do Desporto

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