A adolescência é uma fase de conquistas, sucessos pessoais e académicos, mas também pode ser uma fase de perdas, derrotas, frustrações, desentendimentos e fracassos.
No seu íntimo, cada adolescente sabe que não consegue ser totalmente independente, mas ainda assim gosta que o considerem capaz nas decisões que toma e, em tudo o que faz – escolhas de amigos, saídas sem horas para voltar; disciplinas em que não se aplica, por não gostar do professor; não estudar determinada matéria, por não lhe encontrar razão; não sair da cama para tomar o pequeno-almoço com a família por dormir até tarde; não arrumar o quarto, quando lhe pedem, porque para si está bom assim, entre tantas outras situações. Muito embora algumas vezes nem tenha consciência disso, qualquer adolescente precisa de sentir proteção, amor, respeito, atenção e compreensão, com poucas interferências por parte dos pais, que não “percebem” quase nada da sua “VIDA”.
Também por isso é tão necessário que os adultos estejam atentos, sem serem intrusivos, pouco intrometidos, sem deixarem de estar disponíveis para tudo o que os filhos ou filhas precisem, porque para os e as adolescentes os adultos têm a “mania que sabem tudo”, levando a que os conselhos sejam entendidos como ordens, ou regras às quais só apetece desobedecer ou quebrar. Também não percebem porque pai e mãe são tão exigentes com coisas de menos importância para eles, quando os seus pares os entendem tão bem, também eles a lidar com pais mais ou menos exigentes, conservadores ou democráticos, assim como com professores aborrecidos e secantes. Na verdade, a adolescência dá imenso trabalho!
É uma fase da vida cheia de contradições, emoções, sentimentos intensos e muita vontade de experimentar coisas novas, onde o suporte familiar é fundamental, não só para moderar as convulsões, mas também para amenizar as tempestades. Se pararmos para pensar, afinal é também uma fase de desenvolvimento e aprendizagem para pais, que são por vezes expostos às mais inverosímeis situações, aprendendo também eles a lidar com tanta novidade. A adolescência é um período de desafios constantes e de crescimento mútuo, onde as emoções desempenham um papel revelante!
Emoção deriva da palavra em latim emovere, que significa “movimento para fora” e, é esta a sua primeira função, ao permitir ao indivíduo estabelecer os seus primeiros contactos, transformando-se na primeira forma de comunicação com o exterior, base das relações interpessoais.
O neurocientista António Damásio diz-nos que as emoções são um meio natural de avaliar o ambiente que nos rodeia e de reagir ao mesmo, de forma adaptativa. Esta singela equação Emoção=Adaptação carrega um sem número de variáveis, estímulos, respostas, matizes e sentidos, na qual a interação humana tem um lugar de destaque, por estarem as emoções subordinadas aos atos e respostas que advêm da relação que se estabelece com o outro, contribuindo para o raciocínio e para a inteligência em geral, na sua capacidade de adaptação e funcionamento. Por tudo isso, as emoções servem para nos ajudar a viver melhor. Porém, se nos adolescentes surgem em turbilhão, como podem ser adaptativas e controladas? Se os nossos e as nossas jovens não conseguem, por vezes, perceber o que se está a passar no seu íntimo, como podem gerir as emoções de forma a tomarem decisões ponderadas e bem aceites nas relações interpessoais?… É esta contradição que torna tudo desafiante. O que se pretende que seja uma fase de aprendizagem emocional, por vezes vira um profundo caos com consequências menos boas para jovens e para quem está à sua volta – família, pares, professores ou outras figuras de autoridade.
Se o equilíbrio emocional é fundamental para se fazerem boas escolhas, uma tomada de decisão eficaz é sinónimo de uma pessoa segura, o que se torna difícil quando, por vezes, se perceciona o ambiente como hostil e estranho. É necessária cautela, uma vez que as emoções também se encontram inerentemente relacionadas com o conflito, dificultando a gestão positiva do mesmo, deixando adolescentes vulneráveis à manipulação e, dificultando-lhes o pensamento objetivo e preciso. Aprender a gerir as emoções permite um ambiente mais saudável e rico em aprendizagens, fazendo com que as pessoas emocionalmente competentes apresentem nos contextos de vida prática, uma relação consigo e com os outros francamente mais positiva do que aqueles que apresentam sinais de iliteracia emocional e, daí surge a urgência de reciclar conflitos, desconstruir mágoas e amaciar perdas, para se ser emocionalmente saudável.
Isabel Cabacinho
Psicóloga do Desenvolvimento e do Desporto