Tomando como ponto de partida a frase de Nietzsche: “o que não me mata, torna-me mais forte”, vamos perceber o que é a resiliência; um conceito oriundo da física, que se refere à propriedade de um corpo recuperar a sua forma original, após sofrer um choque ou deformação. Quando aplicado em psicologia, o conceito de resiliência é a capacidade do indivíduo em lidar com problemas, adaptar-se às mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas, mantendo uma permanência no seu funcionamento, apesar do evento causador de stress.
Embora ocasionalmente, o conceito de resiliência possa ser confundido com o de crescimento pós-traumático, porque alguns autores os mencionam como sinónimos, conseguimos identificar algumas dissemelhanças. Assim, o construto resiliência é percebido como resistência, otimismo e capacidade de gestão da situação durante o tempo em que ocorre determinado evento negativo, não interferindo de forma tão significativa na vida da pessoa, que potencie desequilíbrio, apesar do acontecimento.
Será pertinente dizer que qualquer pessoa que experiencia uma situação que lhe provoca stress negativo (distress) tem de ser obrigatoriamente resiliente? Não necessariamente, embora existam três formas que permitem conseguir uma adaptação positiva, face a qualquer ameaça: através da recuperação – o estado normal de funcionamento do indivíduo é perturbado pelo stressor, mas logo que este passa, a pessoa volta ao seu normal funcionamento, tal como era, antes da exposição ao stress; pela resistência – a pessoa mantém o funcionamento normal antes, durante e depois do elemento de stress; ou ainda pela reconfiguração – a pessoa reconfigura crenças e comportamentos para uma melhor adaptação à situação perturbadora. Neste caso, provavelmente, vai também resistir melhor a qualquer trauma futuro, porque as crenças e comportamentos, elementos fundamentais na resposta à ameaça, foram reconfigurados, fazendo com que o sujeito lhes atribua novos significados.
A resiliência é um processo, com múltiplas variáveis, nomeadamente a temporal e contextual, assim como fatores de risco, de promoção e proteção. Deve ser analisada como um processo interativo entre o indivíduo e o meio que o rodeia, em resultado dos atributos desse mesmo indivíduo, do seu ambiente familiar, social e cultural. É ainda o resultado de uma adaptação bem-sucedida e positiva apesar de uma circunstância ameaçadora, porque o que dá origem às características resilientes não é a vivência dos acontecimentos desafiadores, mas sim, a forma como o indivíduo processa essa mesma experiência negativa.
Apesar de tudo, o indivíduo resiliente procura manter alguma “sanidade” face ao elemento desafiador, podendo inclusivamente ter lugar uma mudança no paradigma do sujeito, com vista à sua adaptação ao meio que o rodeia.
É importante referir que a resiliência é um construto multidimensional, significando por isso, que pode variar não só consoante o contexto e tempo, como anteriormente referido, mas também sofre alterações de acordo com a idade, género, etnia ou origem cultural. Por outro lado, como a resiliência está dependente das circunstâncias de vida do próprio sujeito, este pode experienciar mudanças positivas em determinados domínios da sua vida ou não experienciar, ou mesmo não percecioná-las como negativas noutros domínios, apesar da sua capacidade de adaptação às circunstâncias adversas.
Vivemos tempos estranhos, numa pandemia mundial, em que todos estamos a ter necessidade de nos adaptarmos a novas formas de viver os nossos dias. Quando esta ameaça se tornou real e alterou significativamente a vida de cada um de nós, nem todos tínhamos ainda desenvolvidas competências de resiliência.
Contudo, com o decorrer do tempo, cada um de nós escolheu a melhor forma de se adaptar às circunstâncias, porque as pessoas resilientes têm necessidade de criar um sentido para o que lhes acontece, procurando fazer a ponte de um presente difícil, para um futuro mais satisfatório, mais bem construído, assente em premissas com sentido, tornando o presente suportável e afastando a ideia do que nele pode ser esmagador. Este conceito foi belissimamente articulado por Viktor Frankl (2012) no seu livro “O homem em busca de um sentido”, no qual o autor relata a sua experiência, como prisioneiro, num campo de concentração nazi. “As pessoas resilientes conceptualizam o seu sofrimento para criarem alguma espécie de sentido, para si e para os outros”. E assim respondemos à questão inicial, de que ao passarmos por um evento ameaçador ou desafiante, podemos ficar mais fortes e mais bem capacitados.
Isabel Cabacinho
Psicóloga do Desenvolvimento e do Desporto
Tomando como ponto de partida a frase de Nietzsche: “o que não me mata, torna-me mais forte”, vamos perceber o que é a resiliência; um conceito oriundo da física, que se refere à propriedade de um corpo recuperar a sua forma original, após sofrer um choque ou deformação. Quando aplicado em psicologia, o conceito de resiliência é a capacidade do indivíduo em lidar com problemas, adaptar-se às mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas, mantendo uma permanência no seu funcionamento, apesar do evento causador de stress.
Embora ocasionalmente, o conceito de resiliência possa ser confundido com o de crescimento pós-traumático, porque alguns autores os mencionam como sinónimos, conseguimos identificar algumas dissemelhanças. Assim, o construto resiliência é percebido como resistência, otimismo e capacidade de gestão da situação durante o tempo em que ocorre determinado evento negativo, não interferindo de forma tão significativa na vida da pessoa, que potencie desequilíbrio, apesar do acontecimento.
Será pertinente dizer que qualquer pessoa que experiencia uma situação que lhe provoca stress negativo (distress) tem de ser obrigatoriamente resiliente? Não necessariamente, embora existam três formas que permitem conseguir uma adaptação positiva, face a qualquer ameaça: através da recuperação – o estado normal de funcionamento do indivíduo é perturbado pelo stressor, mas logo que este passa, a pessoa volta ao seu normal funcionamento, tal como era, antes da exposição ao stress; pela resistência – a pessoa mantém o funcionamento normal antes, durante e depois do elemento de stress; ou ainda pela reconfiguração – a pessoa reconfigura crenças e comportamentos para uma melhor adaptação à situação perturbadora. Neste caso, provavelmente, vai também resistir melhor a qualquer trauma futuro, porque as crenças e comportamentos, elementos fundamentais na resposta à ameaça, foram reconfigurados, fazendo com que o sujeito lhes atribua novos significados.
A resiliência é um processo, com múltiplas variáveis, nomeadamente a temporal e contextual, assim como fatores de risco, de promoção e proteção. Deve ser analisada como um processo interativo entre o indivíduo e o meio que o rodeia, em resultado dos atributos desse mesmo indivíduo, do seu ambiente familiar, social e cultural. É ainda o resultado de uma adaptação bem-sucedida e positiva apesar de uma circunstância ameaçadora, porque o que dá origem às características resilientes não é a vivência dos acontecimentos desafiadores, mas sim, a forma como o indivíduo processa essa mesma experiência negativa.
Apesar de tudo, o indivíduo resiliente procura manter alguma “sanidade” face ao elemento desafiador, podendo inclusivamente ter lugar uma mudança no paradigma do sujeito, com vista à sua adaptação ao meio que o rodeia.
É importante referir que a resiliência é um construto multidimensional, significando por isso, que pode variar não só consoante o contexto e tempo, como anteriormente referido, mas também sofre alterações de acordo com a idade, género, etnia ou origem cultural. Por outro lado, como a resiliência está dependente das circunstâncias de vida do próprio sujeito, este pode experienciar mudanças positivas em determinados domínios da sua vida ou não experienciar, ou mesmo não percecioná-las como negativas noutros domínios, apesar da sua capacidade de adaptação às circunstâncias adversas.
Vivemos tempos estranhos, numa pandemia mundial, em que todos estamos a ter necessidade de nos adaptarmos a novas formas de viver os nossos dias. Quando esta ameaça se tornou real e alterou significativamente a vida de cada um de nós, nem todos tínhamos ainda desenvolvidas competências de resiliência.
Contudo, com o decorrer do tempo, cada um de nós escolheu a melhor forma de se adaptar às circunstâncias, porque as pessoas resilientes têm necessidade de criar um sentido para o que lhes acontece, procurando fazer a ponte de um presente difícil, para um futuro mais satisfatório, mais bem construído, assente em premissas com sentido, tornando o presente suportável e afastando a ideia do que nele pode ser esmagador. Este conceito foi belissimamente articulado por Viktor Frankl (2012) no seu livro “O homem em busca de um sentido”, no qual o autor relata a sua experiência, como prisioneiro, num campo de concentração nazi. “As pessoas resilientes conceptualizam o seu sofrimento para criarem alguma espécie de sentido, para si e para os outros”. E assim respondemos à questão inicial, de que ao passarmos por um evento ameaçador ou desafiante, podemos ficar mais fortes e mais bem capacitados.
Isabel Cabacinho
Psicóloga do Desenvolvimento e do Desporto
R. Q.ta de Santa Marta 4-A, 1495-171 Algés
geral@mentalskills.pt
910 196 569
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