Sabe-se que há comportamentos que todos temos, uns mais, outros menos, uns piores, outros melhores, que não nos são tão benéficos quanto aquilo que aparentam… Mas saberemos estar atentos às suas causas e consequências reais? Seremos capazes de distingui-los e moderar ou moldá-los?
O ser humano tem, no geral, uma capacidade (que, pessoalmente, considero fascinante) de “camuflar” diversos mecanismos, sejam eles de defesa ou de capacitação. Por exemplo, alguém a quem tenha sido pedido para aumentar o seu consumo diário de água, poderá facilmente “desculpar-se” com o facto de o café conter água, bem como o refrigerante que toma ao almoço. Este processo é frequentemente percebido como a mente a enganar-se a ela própria. Como? Todos nós tomamos decisões irracionais, muitas vezes contrárias aos nossos interesses reais. Isto porque não temos o controlo pleno da nossa mente. Entre outros, Sigmund Freud estudou e teorizou que, um dos fundamentos da teoria psicanalítica é o facto de os processos psicológicos, como a perceção, a atenção e o pensamento, serem, na sua maioria, inconscientes, sendo a consciência apenas uma fração da nossa vida psicológica.
O cérebro humano é objeto de uma grande complexidade. Tem biliões de neurónios a funcionar em simultâneo, que formam diversas conexões entre si. Estas conexões gastam muita energia. Em comparação com um computador, e segundo um estudo da Universidade de Stanford, se fosse criado um computador capaz de processar o mesmo número de circuitos que o cérebro humano, este consumiria algo como 60 milhões de watts por hora. Isto significa que, e para o nosso bem, o cérebro poderá ter uma predisposição para “inventar” determinadas coisas para nos iludir, não de forma depreciativa, mas com o objetivo de economizar energia. Ou seja, o nosso cérebro não tem capacidade para analisar racional e intencionalmente todas as situações, analisando todas as variáveis que estão envolvidas. Para isso, seriam necessários muitos mais recursos, resultando num gasto ainda mais elevado de energia.
A solução? Acompanhada, claro está, da evolução natural: o nosso cérebro não nos diz toda a verdade! Isto é, existe todo um processo de manipulação de raciocínio e de seleção de informação transmitida. Chegamos até a considerar e inventar coisas que não existem realmente. Só assim é possível reduzir o processamento que exigimos todos os dias, constantemente, aos nossos neurónios, fazendo com que o pensamento intuitivo (que, já agora, é o que nos distingue dos robots) permita a cérebro processar informação na velocidade adequada.
Mas onde começa a mente e acaba o cérebro? Qual a relação entre eles?
Há diversas teorias, algumas emergentes outras estagnadas no tempo, acerca desta questão. E não querendo entrar em detalhes, nem fazendo sentido abordar cada uma delas individual e pormenorizadamente, importa talvez sublinhar que a mente se traduz na consciência subjetiva que temos enquanto seres humanos, e na intencionalidade relativamente ao ambiente que nos rodeia. Permite-nos percepcionar e responder a estímulos, através da consciência, que inclui, por exemplo, os pensamentos e sentimentos.
Considerando que a mente tem três funções básicas – pensamentos, sentimentos e desejos – sabe-se que estas podem ser direccionadas pelo egocentrismo de cada indivíduo ou pelas suas potenciais capacidades racionais, sendo que as tendências egocêntricas apresentam um funcionamento automático e inconsciente. Através da Computational Theory of Mind (CTM), de Putnam e Fodor, compreendemos uma concepção da mente enquanto fluxo de informação através do sistema nervoso, enquanto estrutura separada da matéria biofísica que constitui o mesmo. A mente e o cérebro humanos são então um sistema de processamento de informação em que, por exemplo, os pensamentos são uma forma de computação.
No senso-comum, a mente diz respeito à sede da consciência humana, ao “eu” que pensa e sente, que aparenta ser uma força causal relacionada, mas ao mesmo tempo separada do corpo. Tendo isto em conta, pode concluir-se que a mente existe e funciona com o cérebro e vice-versa, enquanto unidade. E considerando as propriedades físicas da mente e do processamento de informação do cérebro (processos não materiais, claro está), teoriza-se também que a mente é, também, composta por estes processos gerados pelo cérebro.
Pode ser traiçoeira? Sim, sem dúvida. Os processos inconscientes estão presentes e não podemos controlá-los? Sem dúvida. Mas não estamos entregues a esta evidência. Podemos aprender a conhecer melhor a nossa mente e a forma como funciona. Um dos atributos chave da mente é a sua esfera privada. Isto significa que ninguém, a não ser nós próprios, pode aceder à nossa mente. Podemos facilitar a sua interpretação, podemos tentar explicar, mas ninguém a conhece como nós. Mas é preciso estarmos atentos. E é preciso comunicar, consciente e inconscientemente, para que não fiquemos fechados nela a sete chaves. Porque da partilha, poderão advir caminhos para a facilitação do nosso bem-estar psicológico.
A mente, essa, será sempre um caminho a desbravar!
Filipa César
Psicóloga Clínica e da Saúde
Sabe-se que há comportamentos que todos temos, uns mais, outros menos, uns piores, outros melhores, que não nos são tão benéficos quanto aquilo que aparentam… Mas saberemos estar atentos às suas causas e consequências reais? Seremos capazes de distingui-los e moderar ou moldá-los?
O ser humano tem, no geral, uma capacidade (que, pessoalmente, considero fascinante) de “camuflar” diversos mecanismos, sejam eles de defesa ou de capacitação. Por exemplo, alguém a quem tenha sido pedido para aumentar o seu consumo diário de água, poderá facilmente “desculpar-se” com o facto de o café conter água, bem como o refrigerante que toma ao almoço. Este processo é frequentemente percebido como a mente a enganar-se a ela própria. Como? Todos nós tomamos decisões irracionais, muitas vezes contrárias aos nossos interesses reais. Isto porque não temos o controlo pleno da nossa mente. Entre outros, Sigmund Freud estudou e teorizou que, um dos fundamentos da teoria psicanalítica é o facto de os processos psicológicos, como a perceção, a atenção e o pensamento, serem, na sua maioria, inconscientes, sendo a consciência apenas uma fração da nossa vida psicológica.
O cérebro humano é objeto de uma grande complexidade. Tem biliões de neurónios a funcionar em simultâneo, que formam diversas conexões entre si. Estas conexões gastam muita energia. Em comparação com um computador, e segundo um estudo da Universidade de Stanford, se fosse criado um computador capaz de processar o mesmo número de circuitos que o cérebro humano, este consumiria algo como 60 milhões de watts por hora. Isto significa que, e para o nosso bem, o cérebro poderá ter uma predisposição para “inventar” determinadas coisas para nos iludir, não de forma depreciativa, mas com o objetivo de economizar energia. Ou seja, o nosso cérebro não tem capacidade para analisar racional e intencionalmente todas as situações, analisando todas as variáveis que estão envolvidas. Para isso, seriam necessários muitos mais recursos, resultando num gasto ainda mais elevado de energia.
A solução? Acompanhada, claro está, da evolução natural: o nosso cérebro não nos diz toda a verdade! Isto é, existe todo um processo de manipulação de raciocínio e de seleção de informação transmitida. Chegamos até a considerar e inventar coisas que não existem realmente. Só assim é possível reduzir o processamento que exigimos todos os dias, constantemente, aos nossos neurónios, fazendo com que o pensamento intuitivo (que, já agora, é o que nos distingue dos robots) permita a cérebro processar informação na velocidade adequada.
Mas onde começa a mente e acaba o cérebro? Qual a relação entre eles?
Há diversas teorias, algumas emergentes outras estagnadas no tempo, acerca desta questão. E não querendo entrar em detalhes, nem fazendo sentido abordar cada uma delas individual e pormenorizadamente, importa talvez sublinhar que a mente se traduz na consciência subjetiva que temos enquanto seres humanos, e na intencionalidade relativamente ao ambiente que nos rodeia. Permite-nos percepcionar e responder a estímulos, através da consciência, que inclui, por exemplo, os pensamentos e sentimentos.
Considerando que a mente tem três funções básicas – pensamentos, sentimentos e desejos – sabe-se que estas podem ser direccionadas pelo egocentrismo de cada indivíduo ou pelas suas potenciais capacidades racionais, sendo que as tendências egocêntricas apresentam um funcionamento automático e inconsciente. Através da Computational Theory of Mind (CTM), de Putnam e Fodor, compreendemos uma concepção da mente enquanto fluxo de informação através do sistema nervoso, enquanto estrutura separada da matéria biofísica que constitui o mesmo. A mente e o cérebro humanos são então um sistema de processamento de informação em que, por exemplo, os pensamentos são uma forma de computação.
No senso-comum, a mente diz respeito à sede da consciência humana, ao “eu” que pensa e sente, que aparenta ser uma força causal relacionada, mas ao mesmo tempo separada do corpo. Tendo isto em conta, pode concluir-se que a mente existe e funciona com o cérebro e vice-versa, enquanto unidade. E considerando as propriedades físicas da mente e do processamento de informação do cérebro (processos não materiais, claro está), teoriza-se também que a mente é, também, composta por estes processos gerados pelo cérebro.
Pode ser traiçoeira? Sim, sem dúvida. Os processos inconscientes estão presentes e não podemos controlá-los? Sem dúvida. Mas não estamos entregues a esta evidência. Podemos aprender a conhecer melhor a nossa mente e a forma como funciona. Um dos atributos chave da mente é a sua esfera privada. Isto significa que ninguém, a não ser nós próprios, pode aceder à nossa mente. Podemos facilitar a sua interpretação, podemos tentar explicar, mas ninguém a conhece como nós. Mas é preciso estarmos atentos. E é preciso comunicar, consciente e inconscientemente, para que não fiquemos fechados nela a sete chaves. Porque da partilha, poderão advir caminhos para a facilitação do nosso bem-estar psicológico.
A mente, essa, será sempre um caminho a desbravar!
Filipa César
Psicóloga Clínica e da Saúde
R. Q.ta de Santa Marta 4-A, 1495-171 Algés
geral@mentalskills.pt
910 196 569
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